Por Raíssa Muniz
A estudante Andressa Campelo iniciou o
ano de 2012 com 5 aprovações no curso de Medicina, conquistando, entre
elas, a 1ª colocação em duas federais
nacionalmente reconhecidas (Universidade Federal do Piauí e Universidade
Federal do Rio de Janeiro). Tendo se tornado quase que imediatamente um exemplo
para os admiradores e vestibulandos de Medicina, seu nome vem se tornando cada
vez mais citado entre conversas entusiasmadas de estudantes.
Em uma dessas conversas, Andressa foi
apresentada por suas façanhas ao “VestMedDáDeprê”, grupo virtual que hoje conta
com quase 3.000 estudantes que se unem por um único sonho: o de tornarem a
Medicina algo palpável em suas vidas.
O grupo surgiu após alguns jovens sentirem
a necessidade de compartilhar suas experiências enquanto vestibulandos do curso
mais concorrido do país. Aos poucos, foi se tornando não só um local de
compartilhamentos cotidianos, mas também uma família cada vez mais engajada em
apoiar seus membros – tanto intelectual quanto moralmente. Hoje, alguns já foram
aprovados no tão sonhado vestibular, levando assim palavras de incentivo aos
que continuam perseverando.
Atendendo aos pedidos do grupo,
busquei contato com a Andressa e realizei uma espécie de questionário, com
perguntas enviadas por os próprios membros do VestMedDáDeprê. Achando pouco fazer ela responder todas as
perguntas, fiz uma “entrevista anexada”. Vocês podem conferir tudo nas linhas
que seguem.
Matheus Capella: Quantas questões você acertou?
No ENEM eu fiz ao todo 170 questões, das 180. Errei
uma questão em humanas, duas em português, três em natureza e quatro em
matemática. E na redação fiz 940 pontos. :)
Tainá Coutinho: Como se preparou para a prova?
Eu já tinha ritmo de estudo, desde pequena. Não
aquela loucura de passar o dia inteiro estudando nem nada, eu só tinha todo dia
reservado algumas horas pra estudar a matéria, fazer as atividades, e não
deixar as coisas acumularem. Até o segundo ano, eu chegava em casa, almoçava,
dormia, e umas 15horas começava a estudar. Aí eu estudava a tarde até de
tardezinha. No terceiro ano eu aumentei o ritmo, estudava das 14horas até umas
18h, aí parava para comer algo, e voltava até umas 20horas. Isso nos dias que
eu não tinha aula a tarde, que eram dois dias na semana. Na minha escola, a
matéria era dividida em três trimestres. Eu acompanhei o assunto do colégio até
o fim do segundo trimestre mais ou menos, para garantir notas boas e tudo mais,
aí quando chegou no terceiro trimestre, que já estava mais próximo do ENEM, eu
deixei o assunto da escola de lado e foquei no ENEM. Usei uns cadernos de um
cursinho daqui de Teresina, que traziam as questões do ENEM divididas por área,
de 1998 até 2010, e respondi todas. Eram umas mil questões, e eu as respondi em
cerca de um mês, um mês e meio, e parei um pouco antes da prova. Quando você
responde um monte de questão do ENEM repetidamente, percebe que elas são meio
previsíveis, no enunciado você já tem noção daquilo que a questão quer que você
responda. Aí fui vendo esse padrão ;) E quanto à redação, eu nunca fiz cursinho
de redação nem nada. Acompanhava as redações da escola, e pelo menos pra mim
era suficiente. Eu sempre gostei muito de ler e acho que isso facilitou
bastante na minha redação, e fazer um cursinho me tomaria tempo, que já não era
muito abundante :/
Rafael Söff: Conseguiu preservar as amizades
durante esse período?
Consegui sim! Eu estudava no Diocesano desde a
primeira série do fundamental, então os amigos que eu tinha lá, cresceram
comigo. A gente conseguia manter a amizade de boa, apesar do stress, da
quantidade exagerada de aulas (tinha dia que a gente entrava 7hrs da manhã e
saía da escola 20hrs da noite). Sair mesmo, é que a gente não fazia muito. O
que mais rolava era sair pra comer algo, ou festinha na própria casa dos
amigos, pra desestressar um pouco, mas balada mesmo não. Pelo menos eu sempre
fui muito caseira kkkk preferia ficar conversando com eles em algum lugar e
tal. Agora depois que passou o vestibular, e cada um seguiu um rumo, tá mais
complicado, porque não dá tempo e tudo mais. A universidade exige muito de
você, não é brincadeira. Mas dá pra levar amizade sim, de boa. Uma vez que as
suas amizades entendam que você tá seguindo seus objetivos, e compreendam a sua
falta de tempo. :/
Allan Alves: Fez muitos simulados? Os mesmos eram
focados no ENEM ou em outro vestibular?
Fiz muitos simulados sim, na escola. Como além do
ENEM, eu prestei UESPI e UEMA, as escolas aqui eram principalmente voltadas
para esses vestibulares. Além de simulados ENEM eu também fiz muitos simulados
gerais, com conteúdo de todas as matérias, estilo tradicional. Também simulados
específicos, com conteúdos da minha área, no caso biologia, química e
português. Mas os simulados ENEM que eu fazia eram bem mais difíceis que o ENEM
em si.
Luísa Rocha Ayres: Costumava ajudar os colegas de
turma com a matéria?
Costumava sim! Sempre que me pediam ajuda em alguma
matéria eu ajudava como podia, não só nas matérias do específico, mas física,
matemática... Eu sempre gostei bastante de matemática. :)
Tainá Coutinho: Como desenvolveu a redação?
Sempre gostei muito de ler, desde pequena. Isso
provavelmente ajudou muito a minha redação, nunca tive dificuldade nela. Então
escolhi não fazer cursinho, porque tomaria tempo que eu poderia estar estudando
ou usando pra descansar também. Eu acompanhava as redações propostas na escola,
e também nunca tentei “modular” a minha redação, no estilo, introdução, tese,
bla bla blá, proposta de intervenção. Na verdade eu escrevia o que vinha vindo
à mente kkkkkkkkkkkk. ENEM é uma loteria né, já vi pessoas que escreviam muito
bem tirando nota abaixo de 700 e pessoas que escreviam mal tirando acima de
800. Mas acredito que para ele, uma redação limpa, com uma coesão e uma
coerência boa, e argumentos “politicamente corretos”, é suficiente. Não precisa
fugir muito do senso comum.
Rafael Söff: Durante esse período, você
dormia quantas horas por dia?
Eu dormia bem. Terminava de estudar por volta das
20hrs, o máximo que eu ia era umas 21:30hrs. Aí sempre entrava na internet,
passava um pedaço e ia dormir, umas 23hrs. Acordava 6hrs pra ir à escola.
Allan Alves: Estendia os estudos até o fim de
semana?
Sim! Eu tinha prova e simulado todo sábado, então a
manhã e às vezes a tarde também eu passava na escola. Aí quando não precisava
ir sábado a tarde fazer prova, eu dormia pra descansar. Mas domingo sempre
estudava. Geralmente as coisas acumulavam um pouco durante a semana por causa
das aulas e tudo mais, e eu usava o domingo para desacumular, estudar a matéria
e tal. Eu não exagerava durante a semana, mas às vezes no domingo acordava cedo
e estudava das 8hrs da manhã até 20hrs da noite. E nas férias de meio de ano eu
também estudei bastante, adiantando o assunto de biologia e química todo.
Tainá Coutinho: Quantas horas estudava por dia?
Terças e quintas eu tinha aula das 7 às 20hrs.
Então me sobrava segunda, quarta, sexta, e o fim de semana. Durante a semana,
eu começava a estudar umas 14, 14:30hrs e ia até umas 18h, parava, umas 19h
voltava e estudava mais um pouco, geralmente até umas 20h, dependendo da
necessidade. Sábado quando não estava na escola usava pra descansar, e domingo
eu estudava também, mas a quantidade de horas variava de acordo com a
necessidade, às vezes chegava a estudar durante 10, 12 horas no domingo, mas
geralmente era menos que isso. Eu não costumava determinar ‘’hoje vou estudar x
horas’’, porque quantidade nem sempre é o que conta. Às vezes três horas de
estudo bem feito valem muito mais do que 10 horas sentado numa mesa sem
aprender nada.
Rafael Söff: E a vida social, como era?
Eu sempre fui muito de ficar em casa, nunca curti
balada e esse tipo de festa, nem mesmo depois de ter passado no vestibular.
Sempre dei mais valor pra ir comer algo com os amigos, ou festinha na casa de
alguém, então foi assim o meu terceiro ano. A gente saia pra fazer essas coisas
às vezes, pra desestressar um pouco também.
Luísa Rocha Ayres: Fazia atividade física durante
esse período? Se sim, qual era?
Não. Kkkkkkkkkkkkkk Eu sempre fui muito sedentária,
não fiz atividade física nem antes, nem durante o terceiro ano. Prometi que ia
entrar na academia quando passasse, mas nunca entrei também. Não dá tempo, nem
tenho coragem. haha
Allan Alves: O que fazia para melhorar o rendimento
continuamente?
Eu sempre acompanhava a matéria, e respondia os
exercícios, treinava com questões, e era isso. Depois que a matéria terminou
continuei respondendo questões, até quando pudesse.
Luísa Rocha Ayres: Chegou a fazer cursinho? Se sim,
por quanto tempo?
Não, eu passei no terceiro ano :)
Evelyn Antunes: Você passou “de primeira”? Se não,
há quanto tempo você tentava?
Sim, de primeira :)
Ana Paula: Você focava nas matérias que mais tinha
dificuldade ou estudava todas sem distinção?
Eu estudei todas pra ter nota boa na escola, até
uma certa altura do ano. Aí eu vi que números complexos, polinômios e aquelas
formulas estrambólicas da relatividade não iam me ajudar a passar no
vestibular. Chegou numa época do ano em que eu não conseguia estudar de verdade
mais nada que não fosse biologia ou química, mas sempre respondendo questões do
ENEM, que não podia deixar de lado.
Luísa Rocha Ayres: Quantas redações fazia por
semana? Quantos exercícios por dia? Quais as matérias que tinha mais facilidade
e dificuldade, respectivamente?
Uma redação por semana, geralmente escrita em uma
semana, e reescrita na outra (era assim que a minha escola avaliava). Exercícios
normais eu fazia à medida que a matéria era dada, então não costumava mensurar
assim a quantidade por dia. Eu nunca tive muita dificuldade em nenhuma matéria,
mas as minhas preferidas eram biologia e química, e não sei a que eu menos
gostava, acho que física.
Allan Alves: Quais os outros vestibulares de
Medicina que você passou?
Eu fiz ENEM duas vezes, uma no segundo ano, e uma
no terceiro ano. Com a nota do ENEM do segundo ano (2010), eu passei na UFMA,
pelo SiSU que abriu no meio do ano. Com a nota do ENEM do terceiro ano (2011)
eu passei pra UFPI no primeiro SiSU, e pra UFRJ no segundo SiSU. Também prestei
medicina na UESPI (5º lugar) e na UEMA (8º lugar).
Luísa Rocha Ayres: Já ouviu alguém dizer que não
conseguiria?
Minha família e amigos sempre me deram muito apoio,
e sempre me fizeram acreditar que eu conseguiria. Ninguém tem o direito de
dizer que você não vai conseguir alcançar o seu sonho. Se você sabe que está
dando o máximo de si, fazendo tudo o que pode pra chegar lá, você está fazendo
a sua parte, e mais cedo ou mais tarde vai conseguir a recompensa de todo esse
esforço.
Sarah Lays: Pode nos dar algumas dicas de
concentração?
Concentração é treino. Eu particularmente não
consigo estudar em um ambiente muito barulhento, principalmente se forem meus
amigos por perto conversando. Sempre preferi o silêncio, mas depois que eu
conseguia me concentrar o mundo poderia desabar que eu não perceberia. Acho que
hábito de leitura ajudou nisso, a gente se perde dentro de algum outro mundo,
num livro, e aí aprende a se desligar do mundo real. Eu também sabia separar
hora de internet/celular da hora de estudar, mas acho que é uma tentação
grande, então deixar a internet desligada, e o celular longe também ajuda um
pouco. Mas quando eu não conseguia me concentrar de forma alguma, ia descansar
ou lanchar algo pra voltar depois, porque seria perda de tempo, e o estudo nem
valeria a pena. Acho que dormir bem também ajuda na concentração, te deixa mais
disposto a estudar.
Luísa Rocha Ayres: Chegou a usar café e/ou
energéticos para se manter atenta durante os estudos?
Durante o ensino médio não. Eu tive que aprender a
tomar café pra virar a noite agora, na universidade.
Matheus Capella: Caso fosse colocada diante
de uma prova subjetiva, acha que conseguiria passar o que aprendeu da mesma
forma que eu uma prova objetiva? Ainda: qual das duas formas você acha mais
viável para o vestibulando?
A segunda fase da UEMA é subjetiva, então eu fiz
vestibular subjetivo. Eu acho que na prova subjetiva você consegue passar muito
mais o que sabe do que em uma prova objetiva, porque você pode explicar, pode
demonstrar aquilo que aprendeu com as palavras, não tem como ‘’chutar’’. A meu
ver é mais justo nesse aspecto, mas também tem suas desvantagens. Assim como a
correção de uma redação pode ser injusta, a de uma prova subjetiva também,
enquanto que a objetiva não sofre desse mal. Talvez fosse o caso de se pensar
em uma avaliação que misturasse os dois, como foi no vestibular da UEMA. Uma
primeira fase objetiva, e a segunda subjetiva.
Rafael Söff: Durante esse período, sua crença foi
preservada? Participava de reuniões da sua religião e conservava pensamentos de
cunho religioso?
A minha escola é jesuíta, então todos os dias antes
da aula uma oração era feita, e de tempos em tempos a gente ia à missa na
escola mesmo. Mas era basicamente esse o meu contato com a religião. Minha
família não é muito religiosa, nem eu também sou.
Ingrid Piaulino: Já está cursando Medicina? O que
está achando sobre o curso? Corresponde a expectativa que criou enquanto
vestibulanda?
Sim! Ingressei no primeiro período e já tinha até
terminado uma matéria quando a greve das federais começou. Outras matérias
ficaram pela metade :/ O curso é exatamente como me disseram: ‘’o início é um
inferno, não desista nos dois primeiros anos, você só vai saber como é medicina
depois’’. O início é muito chato. As matérias são decoreba, você às vezes pensa
‘’o que diabos eu to fazendo aqui, perdendo minhas noites estudando essas
coisas, pra esquecer duas horas depois da prova’’. Mas é assim mesmo. A
medicina é dividida em três ciclos, o básico, o clínico e o internato. Medicina
mesmo, a gente só começa a conhecer no quinto período, no ciclo clínico. O
início é chato, já começa difícil, e vai ficando cada vez mais difícil com o
tempo kkkkkkkkkkk Mas é o inferno que se passa antes de chegar na melhor parte,
e depois que você entra, mesmo com isso tudo, se apaixona. Medicina é lindo.
Vale a pena todas as noites perdidas estudando bioquímica e anatomia, e depois
as perdidas com fisiologia, imunologia, fármaco (terror de todo estudante),
patologia... Já é apaixonante quando você não sabe de nada, imagina o quanto se
torna apaixonante quando você começa a ter semiologia, a estudar os sintomas, e
quanto deve ser mais gratificante ainda quando você passa pelos ciclos do internato,
e começa a ajudar pessoas de verdade. Então sim, corresponde às minhas
expectativas, e vai continuar correspondendo sempre! A vida não fica mais fácil
depois de ter passado, pelo contrário, ela vai ficar três vezes mais difícil. A
universidade não é American Pie, e se você pretende uma federal, vai ter que
lidar com muita coisa, com falta de estrutura, com professores que não querem
dar aula, com iniquidade o tempo todo. Mas tendo isso em mente, com o esforço a
gente supera, principalmente quando se faz o que gosta de verdade :)
Foto; Arquivo pessoal. [Andressa na Maternidade Dona Evangelina Rosa, na Semana do Calouro da MedUFPI].
Luísa Rocha Ayres: Do que você se arrepende
de ter feito (ou deixado de fazer) durante esse período?
Eu não me arrependo de nada, se pudesse voltar ao
início do ano passado, teria feito tudo da mesma forma que fiz :)
Rafael Söff: Você se orgulha de ser assim?
Se eu dissesse que não me orgulhei quando passei,
seria uma mentira. Porque eu me orgulhei, porque eu vi meu esforço
recompensado, porque eu alcancei o que eu sonhava. Se eu disser que não me
orgulho de ser estudante de medicina, também seria uma mentira. Medicina é,
para mim, a profissão mais linda de todas, é um curso difícil, sofrido, e eu
tenho sim orgulho de fazer parte dele. Se eu disser que não vou me orgulhar de
ser médica, também seria uma mentira. Médico estuda absurdamente muito, salva a
vida das pessoas, dedica a maior parte da sua vida à profissão. Medicina não é
escolher simplesmente uma profissão, é escolher um estilo de vida. Não tem como
permanecer nele se eu não amar e não me orgulhar do que vou ser. Então sim, eu
me orgulho. Não por status ou algo do tipo, mas me orgulho porque sei que vou
fazer algo que vai ajudar as pessoas, e que mesmo que não faça a diferença pra
milhares, vai fazer a diferença pra alguém, algum dia.
[Raíssa]: Andressa, várias questões foram
levantadas anteriormente, mas ainda há algumas a serem apontadas. Por exemplo:
qual foi o “ponto-chave” para sua escolha de curso?
[Andressa]: Quando menor eu sempre pensava que
poderia escolher medicina, mas isso não era exatamente uma certeza. Mais perto
do ensino médio, eu fiquei em dúvida entre medicina, direito, e engenharia,
pendendo mais entre as duas primeiras. Mas eu entrei no ensino médio, e a vontade
de cursar as outras duas foi passando, mas certeza mesmo eu não tinha. Tinha
medo de depois descobrir que não era o que eu realmente queria, medo da
qualidade de vida que eu ia ter no futuro, porque sabia que se escolhesse
medicina teria que trabalhar muito, enfim, creio que são medos que todos os
vestibulandos de medicina já passaram algum dia. No segundo ano, uma tia muito
próxima a mim, que eu considerava uma segunda mãe, adoeceu, e a doença nunca
conseguiu se explicada direito por nenhum médico. Ela fez diversos tratamentos
diferentes, teve diversos diagnósticos errados, e no fim acabou não resistindo.
Em meio a isso tudo, eu sempre me senti bastante impotente por não entender o
que ela tinha, e não conseguir ajudar. Principalmente por querer entender e não
conseguir. Aí eu decidi que eu queria de verdade fazer medicina. Que eu
precisava entender e poder ajudar de alguma forma as pessoas.
[Raíssa]: Acha que a ideia que tinha do curso de
Medicina se concretizou após entrar na universidade?
[Andressa]: Sim. Eu estou no primeiro período, não
conheço o que realmente é a medicina ainda. Mas sempre soube que não seria
fácil levar o curso, que ia exigir muito de mim. E tem exigido. Eu conheci
também pessoas de outros períodos, e a partir delas também passei a ter contato
com a realidade do que vem mais à frente, e tem correspondido à minha
expectativa sim. A UFPI enfrenta problemas, tanto estruturais como falta de
leitos, assim como a maioria das federais do Brasil. É como eu disse, ainda
estou muito no início do curso pra conhecer de verdade a Medicina, mas tenho
certeza que ela não vai me decepcionar.
[Raíssa]: Procurou conhecer a estrutura das
universidades que tentou uma vaga?
[Andressa]: A minha escolha era de uma universidade
pública, perto de casa. Por isso prestei apenas ENEM, que é o ingresso para a
UFPI, UESPI e UEMA. O curso da UFPI, que sempre foi a minha primeira opção, é
bastante renomado, mas confesso que não procurei conhecer a fundo a estrutura
da universidade. Conheci depois, quando ingressei, e não é a melhor estrutura
que poderia ser oferecida. O nosso HU está pronto a anos, mas nunca foi aberto.
E como passou no Fantástico outro dia, esse é um problema enfrentado por
inúmeras das federais do Brasil. Mas o curso continua sendo bom, porque é feito
pelos alunos, e eles sempre tiveram muito esforço próprio para fazer uma
medicina de qualidade.
[Raíssa]: Você foi a primeira colocada no
vestibular da UFPI (Universidade Federal do Piauí), ocupando também o primeiro
lugar no vestibular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), além de
ter sido aprovada em outras universidades públicas também. O que a levou a
escolher cursar Medicina na UFPI?
[Andressa]: Eu queria cursar medicina em casa,
perto da minha família. E das opções que eu tinha aqui em Teresina, a UFPI sem
sobra de dúvidas era a melhor. O curso é renomado, já chegou a 6º lugar no
Brasil. A UFRJ também seria uma boa opção, mas é longe demais de casa.
[Raíssa]: Em outras entrevistas, você comenta que
começou a se preparar para esse momento na quinta série (hoje, 6º ano) e que
mesmo que naquela época não soubesse qual profissão gostaria de exercer, queria
ter conforto para fazer executar essa decisão. Seu caso, contudo, é uma exceção
quando comparado ao da maioria. Os estudantes de hoje, em um grande número, só
procuram se dedicar ao vestibular com mais afinco quando já estão nas portas do
Ensino Médio, tendo ainda alguns que só se atentam para essa decisão no 3º ano
do EM. Na sua opinião, qual o tempo certo de procurar se informar sobre qual
curso escolher? E particularmente para os quem sonham com a Medicina, você acha
que sempre é hora de tomar essa decisão – sem grandes prejuízos – ou acredita
que é necessário estipular um tempo para isso?
[Andressa]: Não creio exista um tempo fixo para
decidir qual profissão escolher. Creio que quanto antes a pessoa começar a se
preparar, melhor, mas é uma decisão delicada, que vai influenciar toda a sua
vida, e deve ser tomada com cuidado. Talvez o ensino médio seja o momento que
você mais tem possibilidade de contato com as profissões, para fazer uma
escolha. Mas as coisas não estão perdidas pra quem escolhe já no terceiro ano,
o que vai decidir é o quanto de empenho você coloca nessa escolha.
[Raíssa]: Você acha que a escola influencia nas
tomadas de decisão do estudante? No seu caso, por exemplo, houve motivação por
parte da equipe de docentes ou essas questões não eram tratadas com seriedade?
[Andressa]: Meus professores sempre me apoiaram na
minha escolha, e me ajudaram a alcançá-la, mas nunca me disseram o que
escolher. Tampouco a minha família. A escolha partiu de mim mesmo, como eu
acredito que deve ocorrer. Afinal, quem vai trabalhar naquilo pelo resto da
minha vida sou eu. Acho que depende da escola também, às vezes ela pode
influenciar, pregando que certa profissão é melhor, em detrimento de outras.
Mas no fim a escolha é nossa.
[Raíssa]: Uma coisa bastante interessante no seu
caso é que não precisou abrir mão completamente do uso de redes sociais no
período do pré-vestibular. Acha que isso se deu por que usava as mesmas com
moderação ou você realmente não controlava o tempo de uso?
[Andressa]: Eu usava com moderação. Entrava na
internet todo dia, mas só depois que terminava de estudar, a noite. :)
[Raíssa]: Se tivesse a oportunidade de reencontrar
a Andressa da 5ª série, que acabara de tomar a decisão de que se dedicaria aos
estudos de forma séria, o que diria? Teria algo que você alertaria para ela ou
viveria esses anos exatamente da forma que viveu?
[Andressa]: Eu os viveria da mesma forma que vivi.
Não me arrependo de todo o meu esforço, nem de ter abdicado de algumas coisas
pra alcançar o que eu queria. :)
[Raíssa]: Antes de entrar na universidade, qual
especialização sonhava em seguir? E hoje, qual seria sua escolha?
[Andressa]: A maioria dos vestibulandos de medicina
dizem que querem neurologia ou cardiologia, e que não querem pediatria. Isso
sempre muda! Eu mesma dizia que queria ser neurocirurgiã, mas hoje não tenho
mais certeza pra afirmar nada. Já paguei neuroanatomia, e era minha matéria
preferida, mas ainda tenho muita coisa pra ver, então acho que não tomarei essa
decisão tão cedo. Já vi algumas áreas que antes não conhecia, como radiologia
intervencionista, que achei bem legal também, mas é cedo pra dizer.
[Raíssa]: Andressa, muito obrigada por responder
esses questionamentos. Sei que acalentarão inúmeros estudantes que estão
passando por toda aquela pressão que outrora você passou. Atualmente, depois de
toda a divulgação da mídia estadual e nacional (especialmente perante a
reportagem da revista VEJA), creio que já tenha percebido que se tornou um
espelho para todos que pretendem seguir esse sonho complicado que é entrar em
uma universidade de Medicina. Levando em conta essa afirmação, qual mensagem
você deixaria àqueles que hoje lutam para realizar esse desejo tão complexo que
é a Medicina?
[Andressa]: Medicina é para quem tem amor. Amor
suficiente para abdicar de muita coisa, pra conseguir entrar. Amor para
continuar o curso mesmo com todas as dificuldades que ele tem. Amor para ajudar
aos outros quando você finalmente se formar. Passar pra medicina é difícil, mas
ser médico é algo muito mais complicado ainda, então é preciso ter realmente
paixão por aquilo que se faz. E se é o seu sonho, como eu sei que é o sonho das
pessoas que vão ler isso, se empenhe ao máximo, faça tudo o que puder, que a
recompensa virá, mais cedo ou mais tarde. E quando vocês finalmente se tornarem
médicos, se coloquem a serviço das outras pessoas. Porque ninguém consegue ser
feliz servindo apenas a si mesmo, mas servindo também ao próximo. Foi um prazer
responder as perguntas de vocês, espero realmente que tenha ajudado em algo. :)
Boletim da Andressa (1º lugar - UFRJ)
Boletim da Andressa (1º lugar - UFPI)
Bem,
gente, espero que tenham gostado desse meu improviso de “jornalista por um post”
aqui pro 45DR. Gostaria de agradecer aos membros do VestMedDáDeprê, a todos que
enviaram as perguntas e, especialmente, a Andressa, que se mostrou não só
acessível para realizar essa postagem, mas também muito gente boa pra acompanhar
comigo o desenvolvimento da publicação. Enfim, obrigada, galera!
Raíssa
Muniz
Que bacana !! Eu sou do PI, mas moro no Rio. Estudo Enfermagem no Campus UFRJ - Macaé (campus que vc foi selecionada para Med). Se tivesse vindo pra cá iria estudar na mesma turma que eu, pois o Curso de Med, Enf e Nutri são (eram) integrados no primeiro ciclo. Mas vc fez uma ótima escolha em optar pela UFPI, além de ser perto de casa, o Campus UFRJ- Macaé é novo, sem estrutura, falta professores etc. Antes mesmo da greve nas federais, os acadêmicos de med daqui já estavam fazendo greve para melhorar a estrutura do Curso e dos laboratórios. Também quero cursar medicina!! Resolvi trancar o curso de Enfermagem para me dedicar ao vest de Med nesse ano de 2013. Espero poder superar esse desafio e conquistar a tão sonhada vaga em Med, se eu passar para UFPI, volto para meu estado (minha família tá ai), Mas gosto muito daqui e pretendo fazer o Curso no Campus do Rio (Haja estudo.. rsrs), mas se passar pra Macaé vou ficar super feliz, é meu quintal! Bjos e Sucesso^^
ResponderExcluirIh, eu havia confundido, vc passou para o Campus do Fundão mesmo. Foi mal!! hehe
ResponderExcluirEstou na batalha por uma vaga para o curso de medicina em uma universidade federal, mas confesso que não é fácil conciliar o trabalho com as poucas horas de tempo livre, sem contar que à noite estou tão exausta que mal consigo assistir alguma coisa na TV. Estou tendo muita dificuldade para organizar conteúdos e horário para estudar. Mas ainda vou encontrar o meu ritmo.
ResponderExcluirComo tenho acesso a essa apostila dividida por áreas?
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