Conselhos de um valor qualquer... (por Déborah Simões)

O seguinte texto foi retirado do blog de Déborah Simões e é de autoria da mesma. Confira o original aqui.


"Queria escolher por você. 

Mais do que isso: queria segurar sua mão e te impedir de entrar nesse beco escuro que, pouco a pouco, vai seduzindo os seus olhos. Não é, simplesmente, pelo laço que nos une na origem, mas pelo dever de proteger quem respirou, pela primeira vez, quando eu já corria. 
Tal proteção é algo nosso, porque, apesar de Deus ter nos eleito opostas, sempre fomos cúmplices dos erros infantis uma da outra. 
E mesmo não te sabendo mais menina (e mesmo reconhecendo que, muitas vezes, foi você quem estufou o peito para me resguardar), insisto em disfarçar seus deslizes que, agora, já não são mais infantis e o pior: machucam. 
Só você sabe quais frutos deseja colher, mas talvez não entenda - ainda - que optou pelas sementes erradas. A vida esconde algumas encruzilhadas debaixo de aparentes sorrisos amigáveis: e é no ápice de tais conflitos que devemos escolher, com sabedoria e coração (conciliação muito difícil), quem nos toca com delicadeza e nos ama (a ponto de nos acolher, mesmo descalços). 
Sabedoria e maturidade não são características inerentes a ninguém: elas dependem do tamanho do nosso umbigo, no momento... Porque, convenhamos: não há nada de nobre em usurpar do outro a verdade em prol de si mesmo. Fugir daquilo que sentimos não ajuda. 
E muita calma quando a questão envolve aqueles que mostraram lealdade suficiente para nos fazer sorrir (por tanto tempo). 
Nossas decisões são eternas e, embora mudemos os ventos, elas farão, vez ou outra, barulho na porta da frente, para mostrar que tudo que fomos ainda faz parte da gente.
Te amo."

Déborah Simões

Princesinha Clarabólica

Humberto Gessinger e sua filha Clara

Não sei se foi só o fato de escutar os versos que Humberto Gessinger fez para sua filha Clara. Talvez tenha sido bem mais que isso. Resumindo com um único verbo: esbofeteou.
Imaginem passar quase três meses engolindo em porções generosas que tudo que viu, ouviu e sentiu não passava de uma farsa. Imaginem acordar todos os dias tendo como único objetivo do dia esquecer o que tinham lhe confiado durante o sono. Imaginem conseguir tudo isso. E em 02:34 de música relembrar tudo aquilo que você lutou tanto pra esquecer. Não só relembrar imagens, sons, impressões; refiro-me a sentimentos também.
E com versos tão simples, chorar. Porque por mais que a música seja singela, pura, feita de um pai para uma filha, veio em um momento que eu achava estar preparada para viver qualquer coisa sem precisar me apoiar em “quases”, em incertezas. Com palavras tão curtas, percebi que bem maior que minha ilusão anterior, era essa de achar que poderia viver alheia a qualquer fato passado.
Acho que é essa uma das armadilhas que “Parabólica” preparou para mim. Ouvi pela voz do Gessinger. Descobri que era feita de um pai para uma filha. Percebi que tinha sido feita no mesmo ano do nascimento de sua filha, em 1992. Notei que palavras como “saudade”, “cuidado”, “medo” e “ingenuidade” estavam bem mais que implícitas em cada verso proferido. E o mais simples, mas também o mais importante: a detentora de toda essa reviravolta se chama Clara.
E querendo ou não impedir, a armadilha me abraçou.