Empáfia




Procurando por uma palavra à altura, acabou por deixar o dedo repousar na pequena página do dicionário. Assustado, estreitou os olhos, procurando assim encontrar as letras que os óculos não conseguiam mostrar claramente. Não saberia dizer se acabara de encontrar a palavra certa ou se era a palavra certa que acabara de encontrá-lo. Talvez fosse a primeira opção, uma vez que sua mente de criança pouco acreditava que algo que fosse “certo” fosse lhe encontrar esparramado em um sofá.
Piscara os olhos, assustado. “Empáfia.” Já ouvira essa palavra em algum lugar. Se fora nos romances quinzenais ou nas conversas cotidianas, pouco lembrava naquele momento. A grandiosidade daquelas letras, contudo, deixava sua cabeça martelando. Achou a palavra tão bonita, mas não conseguiu digerir seu significado. “Por que deram um significado tão feio pra uma palavra tão bela?”, se questionou. Não obteve resposta. O que ele não sabia, contudo, era que o tal significado feio tomava novos rumos no mundo dos mais crescidos.
Lembrou-se logo da tia-avó e de todas as vezes que a mesma procurara seus braços de criança para evitar os pensamentos que todos da casa já reconheciam. Lembrou-se da mãe, que sempre engolia as palavras para não machucar o resto da família. Do pai, que mesmo machucado, vestia a máscara de monsenhor rígido e passava a desfilar pela casa. Lembrou-se dele próprio, estendido no sofá, procurando saber o significado daquela palavra tão estranha e de significado tão forte. E percebeu como continuava negando as raízes da mesma. Empáfia.
Talvez fosse exatamente essa a definição de tudo aquilo. Se estaria certo ou não, só o tempo veio a dizer. O menino, contudo, copiou a palavra do dicionário para o caderno, tendo o cuidado de olhá-la toda vez que procurava a causa dos males daquela casa: empáfia.

Raíssa Victória Muniz
07/01/12


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